O sentimento do praticante pode gerar informações chaves
Por Alberto Kruschewsky dia em Colunistas
Exercício com Máscara: prescrição x aderência
A recomendação do uso da máscara de proteção durante o exercício visa diminuir a possibilidade de contaminação pelo agente causador da Covid-19, e é necessária por conta dos ajustes fisiológicos que acompanham a prática (aumento do ritmo cardíaco, ciclo respiratório, liberação de fluidos etc). Não é simples usar máscara, o que demonstram as evidências de resistência até por parte dos agentes que trabalham no ambiente hospitalar (NICKELI et al 2004), mas devemos ter em mente que a prática de exercícios no ambiente externo envolve momentos de rompimento do isolamento, o que exige proteção em um contexto sem vacina.
Alberto Barretto Kruschewsky Foto divulgação: Instagram
Entretanto, se a aderência a prática de exercícios para combate e prevenção ao sedentarismo, problema de saúde global, já inclui barreiras, o quadro pós pandemia Covid-19 é ainda mais complexo. Indivíduos em diferentes estágios de aptidão vem sendo estimulados a iniciar e manter a prática regular de exercícios, e precisam fazê-lo usando máscara. Será que isso pode afetar a percepção do praticante e se tornar mais um desafio? Nesse sentido, questões que envolvem a prescrição do exercício, modalidade escolhida, intensidade, frequência e volume dos estímulos serão determinantes para a dose aplicada. A máscara pode criar um adicional na dose, por ser barreira mecânica, seletiva ao fluxo de ar. Estudos demonstraram que 1 hora de caminhada leve com máscara incrementou frequência cardíaca, ritmo respiratório e pressão transcutânea de dióxido de carbono, porém sem mudanças significativas na percepção subjetiva de esforço (ROBERGE et al., 2012). É importante pontuar que se trata de caminhada, e cabe a indagação: além da percepção de esforço, a máscara pode influir no conforto/prazer experimentado pelo praticante e comprometer a aderência ao exercício?
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Efeitos negativos nas percepções de conforto e prazer, geralmente associadas a exercícios de alta intensidade, parecem decrescer o volume de exercício praticado por sessão e a aderência a um programa inteiro (KWAN & BRYAN, 2010; RHODES, & KATES, 2015). Também existem evidências de que altos níveis de prazer (elevada afetividade) estimulam a aderência a ao exercício no futuro (EKKEKAKIS et al., 2011). Além dessas variáveis, o esforço resulta em aumento da sudorese, elevando a umidade do tecido da máscara, o que enfraquece a função de barreira. O tecido escolhido também pode influenciar a circulação de ar, com possíveis efeitos sobre a sensação térmica no espaço morto (entre a máscara e a face). São questões que podem afetar como o praticante percebe o exercício e devem balizar a prescrição de profissionais da área. Como o uso de máscaras é protocolo de segurança o momento exige cuidados na adequação da dose. Investigar o papel da máscara sobre o sentimento do praticante pode gerar informações chaves para uma prescrição que facilite a aderência, diminuindo o risco de uma experiência aversiva para o praticante.
Alberto Barretto Kruschewsky
Professor do Departamento De Ciências da Saúde da Universidade Estadual de Santa Cruz - Uesc
Graduação: Educação Física pela Universidade Estadual de Santa-Uesc
Mestrado: Prodema UESC
Doutorado: Biodinâmica do Desempenho, Universidade Federal de Santa Catarina
Esporte: Oficial Técnico Nível II pela União Internacional de Triathlon
Instagram: @betok4343
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Tags: #meiamaratona #exercicio&mascara
Fonte:
ROBERGE, R.J.; KIM, J-H; BENSON, S.M. Absence of Consequential Changes in Physiological, Thermal and Subjective Responses From Wearing a Surgical Mask. Respirology Physiology Neurobiology, v.181, n.1, p.29-35, 2012.
KWAN, B. M.; BRYAN, A. D. Affective response to exercise as a component of exercise motivation: Attitudes, norms, self-efficacy, and temporal stability of intentions. Psychology of Sports and Exercise, v.11, n.1, p. 71–79, 2010.
RHODES, R. E., & KATES, A. Can the affective response to exercise predict future motives and physical activity behavior? A systematic review of published evidence. Annals of Behavioral Medicine, v.49, n.5, p.715–731, 2015.
EKKEKAKIS, P.; PARFITT, G.; PETRUZZELLO, S. J. The pleasure and displeasure people feel when they exercise at different intensities: Decennial update and progress towards a tripartite rationale for exercise intensity prescription. Sports Medicine, v.41, n.8, p.641–671, 2011.
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